O divórcio, quando ocorre, ou quando sua possibilidade se torna real na vida dos casados, é uma das mais importantes crises da vida do adulto.
No casamento, ambos os parceiros mudam ou evoluem com os anos, geralmente em diferentes ritmos, e não necessariamente em direções complementares, podendo surgir a necessidade de separação.
Assim, diante de um casamento não satisfatório, começam a surgir inúmeros problemas no convívio e no relacionamento, que chamaremos aqui de desajustes conjugais. Ocorrendo a separação, ambos os ex-parceiros , independente de quem tenha tomado a iniciativa, passam por um período de sofrimento em decorrência da perda da relação, por pior que essa estivesse no período imediatamente anterior ao divórcio.
Falaremos aqui em divórcio como sinônimo de separação de corpos e de domicílios, independente do tipo de casamento, seja civil, religioso ou consensual (amigável).
Uma maior aceitação do divórcio
A maior facilidade legal para o divórcio, e a diminuição da influência da religião com dogmas rígidos, tornaram a separação um acontecimento mais aceitável, com as pessoas separadas a sofrer menos preconceitos que no passado.
A percentagem de pessoas divorciadas, na população em geral, aumentou aproximadamente 15 vezes. Outro aspecto que contribuiu foi a busca mais acentuada pelo bem-estar individual, através da maior oferta de prazer (real ou ilusória) na sociedade actual para aqueles que abrem mão da vida a dois.
Como se perpetuam relações desajustadas no casamento
Num casamento, quando ocorre um desajuste conjugal, a responsabilidade pelo problema é de ambos os cônjuges, mesmo que aparentemente a situação aponte para um único responsável.
Isso porque ocorre o que pode ser chamado de acordo inconsciente entre os dois no casamento, isto é : um problema que aparentemente é de apenas um dos cônjuges, é, em geral, compartilhado ou até mesmo aceite pelo outro.
Assim, uma pessoa ao se casar ou manter-se casada fa-lo pelas virtudes do parceiro ou da própria união. Porém, com as virtudes, aparecem as diferenças e até mesmo os problemas.
Questões sócio-culturais também são muito importantes na manutenção de casamentos muito desajustados, principalmente em culturas e classes sociais em que a mulher (ou o homem) tem uma educação rígida em relação ao casamento, não tendo uma vida pessoal própria, independente, mesmo profissionalmente, em que o casamento e a maternidade são vistos como meio de vida, muitas vezes por necessidade e não como opção.
Além disso, muitos casamentos mantêm-se pela extrema dependência afectiva dos cônjuges um do outro, que faz com que desajustes intensos no casamento sejam tolerados, de modo que a tristeza pela perda do casamento seja intensa ou até insuportável, não permitindo uma separação mesmo que os problemas conjugais sejam vários.
Causas do divórcio
Da mesma forma que ocorre com o casamento, o divórcio é uma questão única para cada dupla que se separa.
Geralmente a separação é mais comum entre casais que se uniram na adolescência ou entre membros de diferentes níveis sócio-econômicos e culturais. Também pessoas cujos pais eram separados têm maior tendência a resolver um problema conjugal, optando pelo divórcio.
Outra experiência provocadora de tensões no casamento é a paternidade, fazendo com que o parceiro sinta menos prazer com o outro, após o nascimento de filhos.
A presença de doença nos filhos também gera uma tensão ainda maior, sendo que casamentos em que um dos filhos morre por doença ou acidente têm uma tendência de cerca de 50% de terminarem no divórcio.
Divórcio e relações extraconjugais
Na meia-idade (40 a 60 anos) 60% dos homens e 40% das mulheres tiveram pelo menos um encontro extraconjugal (segundo dados americanos). A maioria desses acontecimentos é mantida em segredo, mas a sua revelação raramente se transforma em causa suficiente para a separação.
Muitas vezes, contudo, a relação extraconjugal sinaliza insatisfações prévias dentro do casamento, de um ou de ambos os parceiros, e não necessariamente apenas insatisfações sexuais.
Motivos psicológicos para o divórcio
Inúmeras e praticamente incontáveis podem ser as razões objectivas e práticas de separações. As pessoas que se separam podem atribuir a perda do amor, a presença de um relacionamento extraconjugal, o esfriamento sexual, as zangas constantes, a interferência dos sogros, a falta de dedicação ao casamento, e tantos outros que propiciam um desajuste conjugal.
Porém, da mesma forma que vimos antes em relação aos factores inconscientes (não percebidos pela pessoa) que são capazes de manter uniões " desajustadas ", também ocorrem factores psicológicos (inconscientes) da pessoa que agem na hora de optar-se por separações, além dos factores objetivos, práticos, que se mostram mais evidentes.
Podemos falar nos seguintes factores
psicológicos que determinam as separações:
Escolha do cônjuge:
Não é raro que uma escolha
insatisfatória tenha uma repercussão através do divórcio somente
após anos de casamento. O nascimento de filhos, o surgimento de
rotinas, a estabilização da vida sexual, a maior independência dos
filhos crescidos, entre outros aspectos comuns do casamento, porém
geradores de ansiedade, podem levar a uma reflexão sobre a escolha
do cônjuge apenas após anos de vida a dois.
Amadurecimento do casal:
Uma segunda causa psicológica para o
divórcio seria o amadurecimento desigual do casal. As mudanças
naturais que ocorrem em cada pessoa ao longo da vida, podem gerar nos
parceiros de casamento, diferenças que se tornam difíceis de
conciliar.
Decadência dos aspectos saudáveis
do casamento:
A diminuição do efeito saudável, ou terapêutico, do
casamento é algo que muitas vezes determina o seu fim. Não é
raro que uma pessoa encontre no parceiro alguém que vai poder
aliviar sua ansiedade ou angústia diante de alguns de seus
problemas pessoais. É importante lembrar que isso, em si, não é
algo anormal ou um problema em si. É algo natural das uniões.
Porém pode extremar-se ou tornar-se um problema. Mas quando este
lado de alívio da ansiedade dentro do casamento é rompido, a
união pode acabar.
Mudança psicológica de um dos
cônjuges:
Muitas vezes o que pode aproximar
duas pessoas são seus lados problemáticos, ou conflituosos. Assim,
o divórcio pode estar ligado à melhora psicológica de um dos
cônjuges, sem ser acompanhado pelo outro.
Surgimento de um problema psicológico
num dos cônjuges:
Uma mulher pode ver-se diante de uma
forte necessidade de separar-se de um marido que, com o passar dos
anos, foi se tornando deprimido e alcoolico. Da mesma forma, um homem
pode não mais conseguir manter-se com uma mulher que, diante das
inseguranças e sentimentos depressivos do período de climatério
(menopausa), começa a ter casos extraconjugais, como forma de
reafirmar a sua sexualidade e feminilidade, muitas vezes abaladas
nesse período.
Ilusões sobre o divórcio:
Ás vezes pode também ocorrer, a
pessoa iludir-se a respeito da vida do divorciado (que seria mais
prazerosa) e acabar por optar pela separação. Portanto, não é tão
raro ou estranho que separações retrocedam.
O divórcio é um momento de crise importante na vida da pessoa.
Em geral, ocorre uma reacção de luto pelo fim da união, por pior
que esta estivesse antes da separação. Falamos de luto pela
tristeza, decorrente da perda do casamento, tristeza que se pode
iniciar até antes da separação definitiva. A maioria das pessoas
relata sentimentos de depressão e angústia intensa, relacionada a
dúvidas e mudança constante no humor na altura do divórcio (às
vezes alegre, eufórico, às vezes triste, outras irritado). Apesar
de uma separação poder ocorrer de forma rápida, estudos mostram
que o processo de recuperação psicológica da crise do divórcio,
leva cerca de dois anos para ter uma resolução satisfatória,
quando se torna possível que o ex-cônjuge seja visto de modo neutro
(sem raiva ou rancor intensos ou, por outro lado, quando deixa de ser
visto como "uma paixão insubstituível e perfeita"), com
cada um dos separados, a aceitar a sua nova identidade de pessoa
individual, solteira ou descasada.
Os filhos do divórcio
Como ficam as crianças após o divórcio é uma preocupação frequente dos pais, e daqueles que profissionalmente se dedicam a minimizar o efeito do divórcio nos filhos dos separados. Portanto, consequências para as crianças existem, e mais ou menos, de acordo com vários factores, incluindo a própria resolução favorável da separação para os pais, a idade das crianças e o seu grau de desenvolvimento. Do ponto de vista da criança, é preciso levar em conta que a separação é um projecto dos pais. Muitas crianças conseguem ser razoavelmente felizes e sentirem-se bem cuidadas, em famílias em que um ou ambos os cônjuges se sentem infelizes. Poucas crianças demonstram sentirem-se aliviadas com a decisão do divórcio. Uma repercussão imediata dos filhos ao divórcio é variável de acordo com o desenvolvimento e a idade dos mesmos. As crianças mais novas, pré-escolares, dos 3 aos 5 anos, podem apresentar uma regressão depois que um dos pais deixa o lar, podendo voltar a urinar na cama, a serem mais solicitantes, demonstrando ter vários medos e a ter alterações no sono. Podem-se tornar irritáveis e exigentes. |
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