Para
observar como o seu filho vai lidar com esta questão e como se vai
adaptar á nova vida familiar, é preciso entender exactamente em
qual das fases de desenvolvimento está a criança.
Quando
o casal se decide separar, tem de procurar ter toda a maturidade
possível para encaminhar bem a reacção dos filhos à nova fase que
se inicia. E, por mais que os pais sejam cuidadosos, a rotina muda.
Os bébés ficam agitados, as crianças pequenas voltam a fazer xixi
na cama e crianças crescidas passam a dar problemas na escola. Masé
necessário seguir para a frente. Separação não é só dramas: se
a decisão aconteceu, ajudar os filhos a encarar a nova fase, será
importante para todos.
Com
a ajuda de especialistas, podemos dizer que há uma forma de preparar
a criança conforme a idade dela. Vai depender da fase do
desenvolvimento, da dinâmica da família e claro, de como isso será
conduzido pelos adultos. Por isso, cada faixa etária pede um tipo de
cuidado e uma abordagem. “Acompanhadas de demonstrações de
afecto, de amor, cuidado, carinho e respeito, estas atitudes fazem
toda a diferença para as crianças”, garante o psicólogo Ricardo
Muratori. Dividimos aqui as reacções mais comuns e uma série de
orientações baseadas nas idades das crianças. É claro que isso
pode variar muito, mas serão dicas preciosas nesse delicado momento
familiar. E mais: a separação do casal, não precisa de ser mais
uma motivação para se sentirem culpas em relação aos filhos. Mas
deve ser encarada com responsabilidade e como uma nova oportunidade
para todos.
Dos
0 a 2 anos:
É
uma fase de adaptação, e o bébé, como uma esponja, absorve tudo
ao seu redor. Especialmente nos primeiros meses de vida, a mãe é o
seu universo e o que ela sente reflecte-se diretamente na saúde e no
estado emocional do filho. Quando a separação acontece neste
período, ela tende a ficar mais frágil. A mãe perde o acolhimento
e a protecção que costuma receber do marido.
Noites
mal dormidas, comportamento irritadiço, mudanças no apetite e
sintomas como dores de barriga, mal-estar e febre sem motivo aparente
são algumas das respostas dos bébés a estas mudanças. Convém
evitar conversas tensas ou mesmo agressivas diante dele (mesmo que
ainda não tenha um bom entendimento das palavras, ele pode notar o
tom). Se a mãe ainda estiver a amamentar, que as visitas do pai não
atrapalhem esse momento. Manter o ambiente de casa tranquilo e
respeitar a rotina da criança é essencial.
Com os mais crescidos, a separação pode desencadear desânimo, redução do interesse por brincadeiras e atividades rotineiras.
É
nesta fase também que o universo do bébé passa a não se
restringir mais à mãe e o pai começa a desempenhar um papel
diferente para ele. Por isso é importante que a distância não
destrua o vínculo entre eles. Aproveitando que as mamadas são menos
frequentes, as visitas podem ser um pouco mais prolongadas. Mas o
ideal é que não passe por exemplo, um fim-de-semana inteiro longe
da mãe. Uma opção seriam encontros durante a semana, mais breves.
Nesses momentos, o pai pode inclusive, ter a ajuda da mãe, da irmã
ou de alguém com experiência. Porém, é fundamental que ele
converse com a mãe da criança para os detalhes da rotina.
Dos
2 a 6 anos:
Diante
da separação, a criança pequena costuma fazer perguntas como “Onde
está o pai?”,“porque a mãe não está aqui?”, “porque se
chatearam?” etc. As suas dúvidas e inseguranças vão no entanto,
além do que perguntam. Existe o medo do abandono,da perda do amor do
pai ou da mãe e um sentimento de culpa. O psicólogo Ricardo
Muratori explica que nesta fase predomina a fantasia: a criança
acredita que o que ela pensa acontece.
Entre os meninos, por exemplo,
é comum desejarem a mãe só para si num momento e, em seguida,
identificarem-se mais com o pai. “Quando a separação acontece
diante desse conflito afectivo, vem a culpa, a idéia de que foram os
seus desejos que desencadearam todo o processo”, afirma. As
crianças também podem regredir em relação a aquisições já
feitas (voltam a fazer xixi na roupa, não articulam as palavras tão
bem quanto faziam, por exemplo). Podem demonstrar raiva, angústia,
agressividade, ter choros frequentes e birras mais acentuadas,
alterações de sono e de apetite, dores de cabeça, vômitos e
febres. No momento de ir para a escola, podem surgir dúvidas do
tipo: “Se o meu pai já saiu de casa e deixou-me aqui, será que
minha mãe vai voltar para me vir buscar?”.
Para
acalentar esta criança e acalmar os seus conflitos emocionais, é
preciso conversar muito.Ela tem de perceber o interesse dos seus pais
nos seus sentimentos.“Verbalizar colocações como ‘entendo que
estejas triste e que esteja a ser difícil’ é positivo, pois ajuda
a criança a sentir-se compreendida e amparada”,diz a psicóloga
clínica e educacional Celise Govia.
É
ainda importante, a criança ter um canal pelo qual se expresse,
ainda que inconscientemente, os seus sentimentos. Podem ser desenhos,
jogos, brincadeiras, livros, simulações feitas com os seus
brinquedos e bonecos. Que haja, enfim, um espaço em que ela expresse
simbolicamente a raiva que sente dos pais, a sensação de abandono
ou o que estiver no seu inconsciente. A criança provavelmente não
entende tudo o que está a acontecer, mas enquanto empurra carrinhos,
dá banho numa boneca ou anda de bicicleta, ela projecta os seus
sentimentos e elabora os conflitos que está a viver.
Nesta
idade há uma série de novidades que envolvem outras decisões
importantes quanto à educação. Como a escolha da escola, por
exemplo. É importante que seja uma questão de comum acordo, em que
ambos participem desde a fase de adaptação até as reuniões com os
professores. Mas é no dia-a-dia, a perguntar detalhes, que a criança
vai sentir a presença dos pais.
Dos
7 aos 10 anos:
A
partir dos 7 anos, as crianças conseguem formar conceitos, percebem
o que está a acontecer, têm um julgamento mais apropriado da
situação. Tendem a fazer muitas perguntas e a manifestar tristeza e
descontentamento de maneira clara e directa. O que elas precisam? De
colo.
A
psicanalista Miriam Chicarelli Furini afirma que, quanto maior a
criança, maiores são suas condições psíquicas para lidar com a
ruptura. Mesmo assim, há o sofrimento claro em sintomas como
distúrbios de sono, alterações no comportamento, irritabilidade,
desejo de se isolar, mudanças no apetite.
A
escola reflecte isso. Atitudes mais agressivas com amigos e
professores, comportamentos mais agitados, isolamento e perda do
desempenho escolar, são alguns sinais de que a criança não está
bem. Por isso é fundamental que a escola seja informada do que se
está a passar em casa.
A
rotina da criança e o seu círculo social, de qualquer forma, devem
ser mantidos.É importante para ela, nesta fase, ir à escola,
preservar relacionamentos com amigos, ter a oportunidade de trocar
experiências, retirar a mente um pouco do ambiente familiar e
sustentar as responsabilidades do dia-a-dia. É fundamental manter
os eventos sociais familiares, de ambas as partes. Se o dia da festa
calhar num fim-de-semana ou esse dia esteja combinado estar com o
outro pai, devem-se negociar encontros substitutos. Tudo pela
convivência.
No
geral, tente sempre conversar. É importante deixar a criança
expressar a sua tristeza, sem a pressionar para reagir positivamente.
Além de falar, a criança deve ter outras maneiras para expressar os
seus sentimentos, extravasar, deixar fluír as suas emoções. Isso
pode acontecer por meio da prática de desporto, em actividades como
a arte e música e até por meio de brincadeiras. Os pais têm de
ficar atentos a isso e, se notarem a criança demasiadamente fechada,
uma terapia pode ser uma boa alternativa.
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